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Às vezes me surpreende estar no mundo
Com minhas circunstâncias tão propícias
À poesia, à música e ao profundo
Senso de beleza, e das delícias
De ser a filha amada de meu Vati
E de Rodo meu irmão e da irmã Lúcia
Embora haja o contraponto da angústia
Que por certo é o que faz de mim um vate.
Mas pra tornar-me forte e não passiva
Tive a honra de fazer uma inimiga,
A irmã Sol* cujo ódio dói e instiga
A manter-me a mente alta e compassiva
Pra não tornar-me o branco cisne*, presa
Do infame coração, triste princesa...
(sem data)
Notas
...irmã Sol- nossa irmã mais velha, Solange, falecida, que tendo ciúmes e inveja da Alma a perseguiu e atormentou a vida inteira, mas que nos momentos finais, nos braços da Alma, pediu-lhe perdão. Este episódio trágico e comovente está descrito no romance autobiográfico da Alma, a ser publicado em breve em livro.
Tornar-me o branco cisne- presumo que se trata de uma alusão à reencarnação do poeta Orfeu no corpo de um cisne, citada no Mito de Er, de Platão, na "República", ou na tranformação de Odette em um cisne branco, pelo feiticeiro (aqui o seu próprio coração, que por licença poética ela chama de "infame") no ballet O Lago dos Cisnes de Tchaycowski (Lucia Welt)
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