segunda-feira, 15 de junho de 2009

OS SONETOS PAMPIANOS DA ALMA

Este blog contém a obra monumental de Alma Welt, os famosos SONETOS PAMPIANOS DA ALMA, que lidos em seqüência relatam a saga da autora em sua estância nos pampas desde a sua infância. Seus sonhos, devaneios, ânsias, relatos, crônicas de sua vida cotidiana, estórias e diálogos pitorescos dos empregados da casa e dos peões, lembranças dos irmãos, pais e avós, seus amores, seus medos e dúvidas, seu entusiasmo comovedor pela vida e pela arte, formam um conjunto grandioso, e um retrato magnífico da vida numa estância gaúcha no extremo sul do Brasil.
Eu, Lucia Welt, irmã da poetisa abri este e outros blogs (clique em visualisar perfil completo) para publicar a imensa obra póstuma ( ao todo mais de 4.000 sonetos, além de contos,crônicas, poemas e romances) desta poetisa renovadora das nossas letras, que já se tornou cult e que mesmo sendo de base essencialmente romântica consegue atualizar e justificar essa corrente em pleno alvorecer do século vinte e um.


Carta de Lucia ao Guilherme relatando a morte da Alma

Passados já um ano e dois meses e meio da morte da Alma, resolvi hoje publicar aqui o e.mail que enviei ao nosso amigo Guilherme de Faria, de São Paulo que foi grande amigo da Alma e seu descobridor, lançador, prefaciador e ilustrador, relatando a ele as circunstâncias da morte trágica de minha amada irmã. Este famoso artista plástico e poeta cordelista paulista descobriu a arte e a literatura da minha irmã em Julho de 2001 quando a visitou no ateliê de pintura que ela manteve por quatro anos na região dos Jardins na capital paulista, e merecia ser o primeiro a ser comunicado fora do nosso círculo familiar. Devo dizer que uma versão desta carta eu publiquei em seguida na página da Alma no Recanto das Letras, quando encontrei seu computador ligado e aberto na sua página com a senha salva, e resolvi participar a tragédia aos poetas recantistas, colegas da Alma e supostos amigos seus. Infelizmente minha carta produziu um imenso escândalo e, equivocada e mesquinhamente minha irmã e o Guilherme de Faria foram expulsos daquele site tendo, espantosamente, sido seus cadastros cancelados pelos editores daquele site. Eis aqui o relato que causou aquele imenso tumulto, e indignação:


Guilherme
A tragédia abateu-se sobre a nossa casa. Alma está morta. Minha pobre irmã matou-se por volta do meio dia de hoje. Esperaram-na para o almoço, e como ela não chegava de suas andanças todos começaram a ficar inquietos, pois ela andava esquisita, novamente, nos últimos dias. Rodo, a doutora Jensen, e Matilde, saíram para procurá-la e percorreram os lugares preferidos dela, o quiosque do jardim, o pomar, o bosque, e até a pradaria em torno da casa. Afinal foram até a cascata. Ali, encontraram o seu vestido branco, sobre a alta margem de pedra do poço, ou piscina da cascata. Ali, pode-se ver de cima a superfície cristalina da piscina natural formada pelas águas que caem na cabeceira do poço, único ponto mais tumultuado. Rodo num ponto mais alto avistou o corpo nu muito branco, de minha irmã, a poucos metros do fundo. E mergulhando retirou uma corda que a prendia a uma pesada pedra, pelo pescoço, para que não subisse. Ele a retirou das águas, gritando, gritando seu nome, em desespero. Ele a colocou na margem e tentou fazer uma respiração boca a boca, mas que era mais um beijo trágico, pois ele desmaiou de dor sobre ela. Ao voltar a si, estava como louco, e está assim até agora, num tal sofrimento, que teme-se pela sua vida. Galdério, quase catatônico, de maneira automática e instintiva, paternalmente como costumava fazer quando Alma era pequena ao tirá-la adormecida de sua charrete, pegou seu corpo como estava e veio com ela nua nos seus braços andando pela pradaria em direção ao casarão enquanto a noticia corria, até entrar no salão e depositá-la sobre a grande mesa de jantar. Tudo isso me foi contado por Matilde ao telefone, em meio a um choro convulsivo. Deixei as crianças aos cuidados de Alícia, sem contar a elas o que e estava acontecendo, peguei o carro e dirigi em disparada até a estância. Aqui encontrei minha irmã posta ainda nua sobre a grande mesa da sala. Seu corpo tão branco estava mais lívido ainda, o que fazia com que se parecesse com uma estátua do mais puro mármore de Carrara, tal a beleza que ainda conservava. Tinha somente uma marca circular, avermelhada, ao redor do seu longo pescoço de bailarina. As pessoas da estância, até os peões e suas mulheres já tinham invadido a sala e velavam com enorme reverência seu corpo nu deslumbrante. Nem mesmo a doutora Jensen, arrasada, pediu que a vestissem. Era como se todos sentíssemos que sua nudez era sagrada. Foi então que Matilde suspendeu tal desvario, irrompendo na sala com uma grande toalha de mesa de renda branca na mão, gritando: “Cubram a minha guria, seus ímpios! Afastem-se todos, cubram minha guria!”
Começaram então as velas acesas, as novenas e o pranto coletivo.
Agora o corpo de minha irmãzinha será levado até Santana do Livramento onde será cremado, como ela queria, para que suas cinzas sejam trazidas de volta e espalhadas ao vento, pelos locais da estância que ela mais amava: as flores do jardim, o pomar, o bosque, a campina ao redor do casarão e o vinhedo. Seu amado pampa será sua morada para sempre. Nossa estância, nossa terra nunca mais será a mesma. Não sei sequer se sobreviveremos à perda de nossa Alma amada, que era tão bela por dentro quanto por fora. Jamais haverá alguém como ela. Sentimo-nos perdidos, Guilherme, nosso amigo, que a descobriu e amou aí em São Paulo, e que tudo fez para que tivesse um livro seu publicado, e que tanto parece conhecer a alma e coração precioso de nossa irmã.
O que mais temo agora é a reação de meus filhos e sobrinhos quando souberem do acontecido. Ai! Não sei o que será deles, que a amam tanto!
Reze por nós, meu amigo, pois esta família precisa de orações, pois lágrimas já temos demais!
Lucia

20/01/2007

OS SONETOS PAMPIANOS DA ALMA


A carruagem (de Alma Welt)
1.001


Um piano toca no salão!
Ah! e não fui eu que coloquei
Um CD ou um velho long play,
Talvez seja o Vati, e então...

Ele voltou! Sim, ele me quer!
Vou ao seu encontro e sou mulher!
Sim, ele vai ver agora sou
Pelo menos a guria que sonhou.

Olha, Vati, há muito não me vias,
Mas de verso em verso muito errei
Pelo mundo, a viajante que querias...

E agora, com toda esta bagagem,
Leva-me contigo que eu irei
Quietinha, assim, na carruagem!

19/01/2007

Nota da editora:

Este soneto, o último da vida e da obra da Alma, publicado por ela no Recanto das Letras, tocou muitas pessoas que vinham acompanhando a série pampiana, publicados um ou mais por dia, em tempo real. Os leitores talvez sentiram que se tratava de uma despedida, mas não conscientizaram, pois as leituras registradas desse soneto só dispararam quando coloquei na página de minha irmã (por encontrá-la com a senha salva no seu computador) o anúncio de sua morte, com detalhes, o que indignou a muitos, e peço desculpas. A partir do momento da publicação do anúncio fúnebre, as leituras deste soneto foram rapidamente para mais de 300 registradas nos cinco dias seguintes,enquanto o total das leituras dos textos da Alma subiram mais 2.000 atingindo a marca de 14.000 e tantas, o que mostra a curiosidade válida, ou mórbida, não julgo, que as últimas palavras de um(a) grande poeta causam nos seus pares ou mesmo no público em geral. (Lucia Welt)

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